Se você acha que passar um consultório médico para os filhos é tão simples quanto ensiná-los a usar um estetoscópio, prepare-se para uma dura realidade: sucessão familiar é um procedimento de alta complexidade.
Não basta herdar o jaleco; é preciso herdar estratégia. E, convenhamos, se fosse fácil, não existiriam clínicas falindo porque o neto do fundador achou que “gestão financeira” era só comprar um iPad novo pra recepcionista.
Vamos começar com um diagnóstico pouco poético: grande parte das empresas familiares morrem na terceira geração.
Na medicina, isso seria epidemia. Mas, enquanto um paciente com febre corre para o pronto-socorro, donos de clínicas insistem em tratar a sucessão com chá de camomila e pensamento positivo.
O resultado? Legados viram capítulos de manual do que NÃO fazer.
A verdade é que preparar a transição de uma clínica familiar exige o mesmo rigor de uma cirurgia cardíaca. Você não deixa um residente operar sozinho sem supervisionar cada corte, certo?
Então por que deixaria um herdeiro assumir a gestão sem ensiná-lo a ler um fluxo de caixa? O problema não é a falta de conhecimento médico na nova geração — é a ausência de literacia financeira.
Enquanto o filho estuda anatomia, o CPF da clínica está lá, quietinho, acumulando dívidas como colesterol em artéria entupida.
Imagine esta cena: o Dr. Carlos, fundador de uma clínica de oftalmologia renomada, passa o bastão para a filha, Marina.
Ela, brilhante cirurgiã, sabe tudo sobre catarata, mas zero sobre tributação. Dois anos depois, a clínica está afundando em dívidas porque Marina não sabia que aquele “presente” do pai — a transferência das ações — gerava imposto de doação.
Ou que a falta de um acordo de sócios permitiu que o primo investisse em uma clínica concorrente.
Aqui, a metáfora médica se impõe: sucessão sem planejamento tributário é como receitar antibiótico sem avaliar alergias. Pode salvar ou matar. E a solução? Holding familiar — o “soro antiofídico” do mundo empresarial.
Essa estrutura é a forma mais elegante de dizer: “Filho, você herdará participações, mas não poderá vender a clínica para comprar uma Lamborghini”.
Funciona assim: o holding centraliza o controle dos ativos (imóveis, equipamentos, marcas) e distribui dividendos como um coração bombeia sangue.
Os herdeiros recebem renda sem precisar mexer no negócio operacional. É como ter uma UTI financeira — mantém tudo funcionando, mesmo que alguém na família insista em fazer “inovação disruptiva” (leia-se: gastar o lucro com marketing no TikTok).
Se há algo mais perigoso que um vírus sem vacina, é uma reunião de família discutindo herança. Governança corporativa é o antídoto.
Um Conselho Familiar com membros externos — contadores, advogados, aquele tio sensato que não herda nada — atua como um “sistema imunológico” contra decisões emocionais.
Porque, vamos combinar, permitir que a filha mais nova assuma a gestão só porque “ela é a bebê da família” é o equivalente administrativo a receitar cloroquina para COVID.
E não se engane: definir critérios para entrada na gestão não é falta de amor. É amor de verdade. Exigir que os herdeiros tenham MBA, experiência em outra clínica ou, no mínimo, saibam o que é um DRE (Demonstrativo de Resultados do Exercício) é sobrevivência.
Afinal, ninguém quer um diretor financeiro que confunde “lucro líquido” com “água mineral”.
Aqui está o paradoxo: a nova geração domina tecnologia, mas teme planilhas.
Enquanto o avô usava um caderninho para anotar consultas, o neto quer um app de gestão em tempo real. Ótimo! Integrar ferramentas digitais é respirar.
Sistemas de telemedicina, prontuários eletrônicos e até IA para agendamento são o novo estetoscópio.
Mas atenção: modernizar a clínica não significa abandonar o DNA familiar. Se o diferencial da sua empresa sempre foi o atendimento humanizado, trocar isso por robôs de atendimento é como substituir um cardiologista pelo ChatGPT
A chave é equilíbrio. Capacite os herdeiros com treinamento em gestão de custos e compliance, mas lembre-os de que pacientes são pessoas, não números.
Você faz check-up anual, mas sua clínica tem um plano de emergência para sucessão?
Se a resposta for “não”, pare de ler agora e vá ligar para seu contador. Porque imprevistos acontecem.
E se o fundador falece subitamente, sem testamento ou orientações claras? O que era para ser uma transição vira uma CPI familiar, com herdeiros brigando na justiça e funcionários demitidos em massa.
A solução? Separação clara entre patrimônio pessoal e empresarial (de novo, o holding ajuda) e contratos atualizados.
Revisar apólices de seguro, acordos com fornecedores e até cláusulas de não concorrência evita que a clínica sangre até a morte em uma crise.
Preservar o legado não significa embalsamar a clínica em 1995. É possível honrar a tradição enquanto se adapta — veja as clínicas que sobreviveram à era digital oferecendo exames online sem perder o cuidado presencial.
A chave é diversificação inteligente. Que tal usar o holding para investir em um laboratório parceiro ou em uma startup de saúde preventiva?
Assim, o caixa não dependerá só de consultas, e os herdeiros poderão inovar sem profanar o altar do fundador.
Se sua clínica precisa de um ‘eletrocardiograma financeiro’, nós temos o estetoscópio. Na Personal Assessoria Contábil, fazemos o planejamento que a sua clínica médica precisa.
Criamos estruturas tributárias que evitam hemorragias fiscais e planos de sucessão que transformam herdeiros em líderes.
Agende uma consulta. Porque, no fim das contas, até o melhor cirurgião precisa de um anestesista competente.